3.1. Criatividade e Processo Criativo
- Roberto Lira Miranda
- 7 de ago. de 2018
- 5 min de leitura
Primeira aptidão do Processo Empreendedor de sucesso
De todas as características que auxiliam uma pessoa de espírito criador, uma das mais valiosas é, inegavelmente, a fluência: a capacidade de gerar, simplesmente, quantidades de ideias diante de um determinado desafio. Se for possível pensar em muitas ideias, é mais provável, pela lei das médias, que se consiga um maior número de ideias com bom potencial de aproveitamento. A persistência na obtenção de um grande número de ideias poderá levar à abordagem do problema que esteja sendo estudado sob os mais diferentes ângulos. Isso, por si só, já traz um grande benefício ao processo de encontrar soluções alternativas. Existem várias espécies de estímulos artificiais que podem ser empregados no processo de obtenção de maiores quantidades de ideias. O objetivo básico desses diferentes métodos é estimular o espírito, de um modo ou de outro. Registramos alguns desses métodos:
1. Suspensão (adiamento) do julgamento O maior obstáculo para o desenvolvimento da criatividade reside no fato de que, face a um problema e obrigado a apresentar ideias para sua solução, o ser humano tem a tendência natural de utilizar duas das funções de sua mente ao mesmo tempo: as funções de criação e julgamento. Ao mesmo tempo em que estão sendo criadas, as ideias emergentes são julgadas, obtendo aprovação ou recusa. Isso acaba funcionando como um poderoso freio à produção de um maior número de ideias. Para furar esse bloqueio é importante conseguir a separação, no tempo, das duas funções. Primeiro, só criar e, posteriormente, julgar as ideias geradas. Assim, todas as ideias tornam-se dignas de registro e passam a compor uma lista que somente mais tarde será avaliada e julgada.
2. Plena liberdade e livre fluxo de ideias Nenhuma ideia deve ser descartada, por mais louca, atrevida ou fora de propósito que possa parecer. Todas as inibições naturais ou culturais devem ser postas de lado durante o processo criativo. É mais fácil modificar depois do que criar novamente. Ideias estúpidas ou fantasiosas poderão facilitar o surgimento de outras ideias, nem estúpidas nem fantasiosas, que, à falta das primeiras, poderiam não surgir. Procuram-se soluções não convencionais para os problemas. Talvez, na maior parte dos casos, as respostas a serem adotadas sejam do tipo convencional, mas a procura de respostas convencionais é, também, inibidora da criatividade. É importante, nesse momento, pensar nos problemas de forma diferente da usual ou de uma maneira que se imagine que a maioria das pessoas não pensará. Uma forma curiosa de conduzir o raciocínio para essa perspectiva é considerar e admitir que tudo o que se faz pode ser contínua e amplamente aperfeiçoado e que, muitas vezes, as soluções futuras não estarão próximas das soluções atuais. Centenas de soluções hoje adotadas para diferentes problemas estão a enorme distância das soluções aceitas no passado. Não é difícil imaginar que, no futuro, muitas das soluções serão substancialmente diferentes das praticadas hoje. Vale a pena experimentar este raciocínio: • Como isso era feito no passado? • Como é feito hoje? • Como será feito no futuro? Esse enfoque tenderá a apontar para a geração de respostas inovadoras para os problemas.
3. Disparadores Alex Osborn, publicitário norte-americano, criou um check-list que tornou-se célebre no universo da criatividade: • Imagine outros usos, outras aplicações • Imagine uma adaptação • Imagine um aumento ou uma adição • Imagine uma diminuição ou uma redução • Imagine uma substituição • Imagine um rearranjo • Imagine o contrário • Imagine uma combinação. Esse check-list é sempre utilizado com grande proveito para reacender a tempestade de ideias (brainstorm) depois que ela já arrefeceu e descarregou ideias “velhas” permitindo a retomada da criação e o surgimento de ideias efetivamente novas.
4. Anotações Frequentemente, quando se consegue a primeira ótima ideia para a solução de um problema, ela estaciona na melhor vaga da mente e bloqueia o surgimento de novas ideias alternativas. Passando essa ideia para o papel, é possível desocupar espaço na mente, possibilitando a procura de novas ideias. As anotações nos ajudam, também, a não esquecer ideias importantes surgidas ao acaso (até durante o sono). Testes psicológicos estabeleceram que, em informações de interesse médio (nem insignificante, nem vital) o índice de esquecimento é de 25% nas primeiras 24 horas e de 85% em uma semana. Essa constatação, por si só, já diz muito sobre a necessidade e sobre a importância de fazer anotações. Por outro lado, as ideias colocadas no papel, umas ao lado das outras, tornarão possível, a qualquer momento, a utilização das faculdades de Associação de Ideias, focalizadas a seguir.
5. Fertilização cruzada Procura-se a combinação e a melhoria de ideias através dos processos de associação de ideias e de disparadores como o check-list de Osborn. Sínteses, combinações, mutações e outras formas de misturar, modificar, inverter e transpor ideias tornam-se os meios básicos para a produção de novas ideias.
6. Regime de tempo forçado Mesmo que se disponha de muito tempo para resolver um problema, é importante trabalhar sob pressão. Estabelecer um limite de tempo para o trabalho criativo e comprometer-se com terceiros no atendimento desse limite de tempo, dizendo a outras pessoas – superiores ou pares – que se pretende apresentar tantas ideias dentro de tanto tempo. Sem essa pressão, corre-se o risco de adiar continuamente o início do trabalho criativo.
7. Imposição de quotas Não vale a pena propor-se tarefas impossíveis quanto à quantidade de ideias a gerar. Se nos sentimos capazes de imaginar duas ou três soluções, podemos propor uma quota de cinco. Se chegarmos a cinco, podemos propor-nos oito ou dez. Se chegarmos a dez, podemos pensar em quinze ou vinte. Não precisamos manter esse regime por muito tempo, porque um número maior de ideias começará a surgir mais facilmente e seremos capazes de produzir mais ideias em menos tempo do que no início do processo. Veremos, ainda, que a qualidade das ideias tende a melhorar com a quantidade. Isso nos leva à vantagem básica da fluência de ideias: se temos um problema para resolver e apenas uma ideia para solucioná-lo, ficaremos desprotegidos. Se temos mais ideias, podemos escolher a melhor e manter uma reserva de alternativas em carteira.
8. Incubação Nosso espírito consciente é apenas uma pequena parte das forças mentais à nossa disposição. O cérebro humano tem mais capacidade de memória do que os melhores computadores existentes e pode armazenar e reter dados e deles se recordar durante oitenta anos ou mais. Nosso subconsciente retém centenas de informações que não podemos desarquivar a nosso bel-prazer, mas que nos poderiam ajudar a resolver muitos dos problemas com os quais nos defrontamos. Por isso, permitir que nossas considerações conscientes deslizem para a companhia de memórias armazenadas em nosso subconsciente pode facilitar seu ressurgimento, enriquecido por uma grande variedade de experiências esquecidas. Para fazer com que nosso subconsciente trabalhe a nosso favor, intencionalmente, temos de lhe dar atribuições específicas. Reservar para ele tarefas bem definidas, depois de dar-lhe todos os fatos, informações e considerações essenciais. Isso equivale a proceder a uma revisão completa de todo o problema e de tudo o que conscientemente já tenha sido considerado a respeito, imediatamente antes de nos afastarmos dele para iniciar a fase de incubação.
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