6. Desmistificando as funções de Coaching e Mentoring
- Roberto Lira Miranda
- 14 de ago. de 2018
- 3 min de leitura
Ao longo de nove anos, nos idos da década de 90, tive o privilégio e a satisfação de trabalhar sob a bandeira do Juran Institute, liderando todos os projetos de gestão da Qualidade contratados pelo instituto no Brasil. Juran costumava dizer: “se você quer entender uma situação – qualquer situação – remonte às suas origens”. Lembrei-me disso ao redigir o título deste artigo. Em seus primeiros dias, na Grécia antiga, Mentor era amigo e conselheiro de Ulisses e preceptor de seu filho Telêmaco. O substantivo masculino derivado de seu nome atravessou a história como “pessoa que guia, ensina ou aconselha. Guia, mestre, conselheiro”. Mentor, nos dicionários de Inglês, figura como “advisor and helper” (conselheiro e apoiador) de uma pessoa inexperiente (geralmente crianças e jovens). A etimologia nos informa: o Mentor, ensina e ajuda. Já o “Coach” nasceu nas trilhas do velho oeste americano, conduzindo as carruagens (diligências) puxadas por 4 ou 6 cavalos, que vieram a ser substituídas pelos ônibus modernos carregando mais de 40 passageiros. A cultura norte americana tomou emprestado o nome Coach para designar os professores especializados em preparar estudantes para concursos públicos através de aulas particulares. Os esportes adotaram o Coach para identificar os técnicos em todas as modalidades, responsáveis, por ensinar, exercitar e conduzir seus pupilos e equipes à vitoria. O coach manteve a responsabilidade com a qual arcou desde os tempos da colonização norte-americana: conduzir seus passageiros ao seu destino, mesmo sob o risco de ser vazado por uma flecha apache. E a sustenta até hoje. Quando os times perdem, os técnicos são os primeiros a serem despedidos. Mais do que ensinar e ajudar (sem poder entrar em campo) o Coach lidera e conduz. O brazão da cidade de São Paulo estampa “non ducor duco” não sou conduzido, conduzo. E os “duces” tanto quanto os “Fuhrer´s” de triste história como Mussolini e Hitler lideraram seus países até a ruína. As escolas e os cursos de administração entronizaram o coaching como uma função de liderança, voltada para a implementação efetiva de todos os projetos da empresa, sustentada pela aptidão e interesse do líder em conseguir resultados através da melhoria contínua do desempenho das pessoas e equipes. Enquanto isso, executivos que resistiam à ideia de serem simples cocheiros ou motoristas de ônibus “carregando seus subordinados nas costas”, como alguém me disse uma vez, tratavam de ver para si um patamar mais alto, talvez como preceptor de um príncipe no retorno de D. Pedro I a Portugal, talvez como um conselheiro de presidentes de empresas, mas sempre isentos da responsabilidade pelo sucesso ou destino final de seus aconselhados. Daí, para a criação da figura do “Lider Coach” e de sua sobrecapa de “Mentor” foi um passo. Melhor dizendo, muitos passos dados por muitos profissionais, muitos curiosos e muitos penetras, em muitos países do mundo, conhecendo ou não a etimologia dessas hoje em dia verdadeiras “ciências” cujo horizonte é a revolução do aprendizado, através do rompimento do dilema “ o verbo aprender expressa sempre um fato, enquanto o verbo ensinar não consegue expressar mais do que uma intenção”. Para firmar um consenso em torno das responsabilidades de coaching e mentoring, de educador ou mestre, o passo fundamental é perceber e registrar que o ensino é, sempre, um processo externo ao aprendiz, fluindo no espaço reduzido de uma sala de aula ou no ambiente global aberto de uma rede de satélites, enquanto o aprendizado é, exclusivamente, um processo interno do aprendiz fluindo no interior de seu cérebro, sempre que as informações. transmitidas atravessem o portal ou a “barreira” de seus sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar ) e de sua cultura pregressa. Professor, educador, coach ou mentor: o ensino não é um fim em si. É apenas uma oportunidade que temos para promover o aprendizado.
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